Futuro do trabalho e transformação digital

Futuro do trabalho e transformação digital: desafio de todos nós

Muito esforço tem sido empregado para entender aonde as mudanças tecnológicas estão nos levando. A transformação digital, com especial destaque para o avanço em inteligência artificial, está alterando rapidamente a dinâmica do mundo laboral. Se somam a esse cenário outras tendências de forte impacto no futuro do trabalho, como a do envelhecimento da população. O que é possível prever sobre o nosso horizonte digital? Quais são os riscos e oportunidades desses novos tempos? Quão longe de nós está o futuro?

Os exercícios de “futurologia” não têm alcançado muita exatidão nas previsões. Lynda Gratton, professora da London Business School, criou em 2009 um grupo de executivos de grandes empresas para discutir o futuro do trabalho. Em entrevista recente ao Valor Econômico, ela conta que as transformações tecnológicas estão mais aceleradas do que o grupo previa. Por outro lado, as empresas têm levado mais tempo para adaptarem-se aos novos paradigmas.

Como em qualquer esforço do gênero, há previsões apocalípticas e outras mais otimistas sobre qual será o futuro do trabalho. O que se tem certeza, porque já está ocorrendo na prática, é que muitas profissões se extinguirão. Outras ainda devem surgir, em um movimento contínuo de reorganização do mundo do trabalho. Quem, há 15 anos, imaginaria que existiriam e seriam necessários especialistas em gestão de redes sociais? Ou que se tornariam tão fundamentais os profissionais de UX (experiência do usuário)?

Onde estamos na economia digital?

O Índice de Evolução Digital foi criado em um trabalho conjunto entre a Fletcher School (Universidade de Tufts) e a Mastercard, desenhando um gráfico que localiza a evolução digital de 60 países. O índice combina mais de 100 indicadores diferentes que englobam inovação, ambiente institucional, fornecimento e demanda. Aponta estado atual e taxa de evolução de cada país, identificando benchmarks e aspectos a serem considerados na economia digital.

O Brasil não aparece entre os destaques do índice, embora apresente potencial para crescimento. O país foi classificado entre as nações “Break Out”, aquelas que têm baixa pontuação em seu estado atual, mas que podem se desenvolver rapidamente. Obstáculos institucionais e de infraestrutura são indicados como dificuldades dos países nessa posição. Chile, México e Turquia, por exemplo, apresentam aspectos mais favoráveis para o desenvolvimento da economia digital que o Brasil.

Índice de Evolução Digital aponta situação de 60 países

O estudo também trata de algumas características do atual panorama digital. Citando dados da McKinsey, afirma que o uso de soluções de automação e inteligência artificial pode afetar 50% da economia mundial. “O impacto dessas mudanças seria sentido por 1,2 bilhão de trabalhadores cujos empregos poderiam ser deslocados, e o impacto correspondente nos salários poderia ser de 14,6 trilhões de dólares.” Destaca ainda a inevitabilidade das tecnologias digitais. Hoje, no mundo, mais pessoas têm acesso a um telefone celular do que a um banheiro.

Entre as recomendações do relatório, está a necessidade de associar políticas públicas ao desenvolvimento da economia digital, padrão encontrado nas nações mais competitivas. “A China, por exemplo, está assumindo a liderança na inteligência artificial, que em 2030 deverá aumentar o PIB global em 14%, ou 15,7 trilhões de dólares.” Identificar as tendências e os diferentes drivers que podem levar o país à evolução foram outras medidas citadas pelo estudo.

Futuro do trabalho: para onde vamos?

Quatro grandes fatores terão impacto no futuro do trabalho: globalização, demografia, mudanças climáticas e, claro, tecnologia. Os dados são de relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre o tema. Para a OIT, ainda que o passado indique que as mudanças tecnológicas geram a criação de novos e melhores empregos (depois da diminuição inicial de vagas), “os avanços tecnológicos de hoje surgem em um ritmo nunca visto e estão originando mudanças sem precedentes no mundo”.

Robôs são mais comuns nos países desenvolvidos. Fonte: OIT

Algumas peculiaridades da economia digital deixaram de ser tendência e já podem ser vistas na prática.

  • Trabalho remoto: trabalhar de qualquer lugar, a qualquer hora. As ferramentas digitais facilitaram esse tipo de jornada, que se torna mais comum principalmente no setor de serviços.
  • Automação e inteligência artificial: segundo o relatório da OIT, a distribuição de robôs hoje se concentra majoritariamente na indústria (80%) e nos países desenvolvidos (80%). A inteligência artificial impactará até mesmo setores das ciências humanas, como educação, direito e psicologia.
  • Trabalho sob demanda: desaparecem empregos, mas surgem novas atividades. O profissional passa a ser independente, perde garantias e ganha flexibilidade. O modelo de carreira deve mudar, especialmente a lógica de empregos estáveis com ascensão hierárquica.
  • Aprendizagem contínua: como já destacamos aqui, o profissional que não aprender a aprender perderá seu espaço no mercado de trabalho. O poder e o diferencial de um profissional está e estará cada vez mais relacionado ao conhecimento.

Futuro do trabalho e sentido da vida

Pessoas se adaptam mais rapidamente que empresas. Muitas companhias tradicionais estão sendo solapadas pelas estreantes da economia digital. Por outro lado, o futuro do trabalho também está sendo guiado por necessidades humanas. A busca por qualidade de vida e responsabilidade socioambiental caminha em paralelo com a transformação digital. O trabalho remoto e sob demanda, embora possa precarizar direitos, também é visto com bons olhos por muitos profissionais.

Muitos dos postos de trabalho que estão sendo substituídos pela tecnologia são atividades degradantes para o ser humano. Na automação, empresas conscientes conjugam produtividade com maior segurança no ambiente laboral. É assim que se desenvolvem esforços na mineração e na indústria, por exemplo. As máquinas começam a executar atividades que ofereciam riscos à vida dos trabalhadores. Vista desse ângulo, a tecnologia não parece tão vilã, não é mesmo?

O senso de propósito move as pessoas e, nesse mundo de rápidas mudanças, é provável que deixemos de buscar no trabalho o sentido da vida. Imagina-se que em algumas décadas não haverá emprego para todos. Em artigo para o The Guardian, o historiador israelense Yuval Noah Harari faz uma curiosa reflexão. Baseado na ideia de que a tecnologia, se termina com empregos, pode também garantir uma renda básica universal, ele questiona: “o que a classe inútil irá fazer o dia todo?”. Ele mesmo responde: a solução pode estar nos jogos de computador.

Harari, aludindo ao pós-trabalho, faz uma provocação ao comparar o mundo virtual com as religiões. “Queremos realmente viver em um mundo em que bilhões de pessoas estejam imersas em fantasias, buscando objetivos criativos e obedecendo leis imaginárias? Bem, goste ou não, esse é o mundo em que vivemos há milhares de anos”. No entanto, não é necessário ser tão crítico para perceber que nossa realidade está mudando velozmente.

Deixemos as máquinas fazerem o que forem capazes. Valorizemos aquilo que do homem ainda é insubstituível: criatividade, sensibilidade, generosidade. É possível que, em alguns anos, trabalhar não seja algo imprescindível na vida. Você já sabe o que vai fazer da sua?

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Edição: Svendla Chaves – jornalista

Imagens: Pixabay, Digital Evolution Index e OIT

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