Desenvolvido no escopo do Sistema Toyota de Produção, o Just in Time rapidamente passou a ser notado pelo setor empresarial. Sua aplicação, no entanto, ainda encontra diversos entraves, dando a impressão de ser inapropriado para muitas empresas. Essa conclusão é apressada e equivocada. Para implantar o JIT, assim como o Lean, é preciso promover uma mudança cultural, que dê suporte a seus preceitos.
O JIT é baseado na ampla eliminação de desperdícios, em diferentes aspectos: material, operacional e de recursos humanos. Na definição do termo, é ter-se o produto certo, na quantidade certa, no local certo, na hora certa. Ou seja: o produto solicitado pelo cliente será totalmente adequado a suas expectivas de qualidade, tempo e espaço. E isso vale para toda a cadeia – do fornecimento de base ao consumidor final. Alcançar esse ideal depende de diversos fatores que envolvem não apenas a própria empresa, como também, e especialmente, seus fornecedores.
A demanda do cliente determina o que será produzido, e por isso o JIT também é chamado de “produção puxada”. Como isso inverte a “produção empurrada”, lógica preponderante no sistema industrial, a implantação do JIT é dificultada por diversas barreiras. Em geral, esses impecilhos são superáveis e até mesmo esperados em qualquer mudança de cultura. Entretanto, eles têm servido como argumento para que as empresas desistam da implantação do JIT, classificando-o como um sistema caro e até mesmo inadequado – o que é, obviamente, um equívoco.
Tratamos, a seguir, de alguns dos desafios encontrados para a implantação do sistema Just in Time.
JIT e previsibilidade de demanda
O ponto de partida do sistema Just in Time é a demanda. Se o nível de previsibilidade é baixo, o JIT poderá ser aplicado como filosofia, mas será mais difícil executá-lo amplamente. É o caso de produtos e serviços inovadores, que precisam conquistar credibilidade no mercado e ainda não têm seus processos consolidados. A previsibilidade da demanda precisa incluir toda a cadeia produtiva, dos fornecedores de base ao varejo. Se esses pontos não estiverem identificados, o risco é de sobrecarga de estoques ou, ainda pior, de compromentimento do lead time. Nos produtos com demanda previsível, o JIT pode ser aplicado em sua completude, trazendo benefícios para toda a cadeia.
Área de vendas tem papel fundamental
A estratégia comercial de um negócio que está implantando o JIT deve ser profundamente associada ao funcionamento do sistema. Ofertas e promoções devem considerar a logística de abastecimento e produção, pois o comercial é a ponta do sistema puxado. Assim, o takt time é sua responsabilidade. A variação artificial do volume de vendas pode comprometer o JIT, abalando a produção e a relação com fornecedores. Por isso, é importante que as áreas internas da empresa atuem de forma sinérgica para a correta implementação do sistema.
JIT não é só produtividade, é também qualidade
Não é possível dissociar produtividade e qualidade no Just in Time. A redução dos estoques depende de um sistema que funciona como um relógio suíço, milimetricamente eficiente. É comum que as organizações busquem o JIT apenas como uma forma de aumentar a produtividade e reduzir custos. Isso é um equívoco, se não se compreender que esses fatores são resultado de uma filosofia voltada à qualidade. Se uma peça chega quebrada, se um equipamento não funciona bem, se um colaborador falha no serviço… todo o sistema pode ser prejudicado, afetando a lógica de fluxo contínuo. Não é à toa que a redução de desperdícios passa pela eliminação de funções improdutivas, criadas para sanar ineficiências. Retrabalho e inspeções são elementos inexistentes em um sistema JIT bem implantado.
Logística e relacionamento com fornecedores
A gestão de fornecedores é um dos fatores cruciais no JIT. A influência que a empresa tem sobre a cadeia, bem como aspectos geográficos de distribuição, determinam o sucesso da iniciativa. O prazo de transporte de insumos e produtos pode ser um entrave para que se atenda a demanda. A integração com os fornecedores, estabelecendo relações de confiança, qualidade e prazo, é um ponto crítico do sistema. Esse aspecto também implica uma responsabilidade da empresa com a cadeia, já que a prática de “espremer” o fornecedor pode acabar prejudicando a qualidade da produção ou mesmo levar à quebra de fluxo. A ideia é que a cadeia funcione de forma harmônica, seguindo o conceito de Just in Time de maneira profunda.
O principal desafio do JIT: pessoas e cultura
O Just in Time segue a filosofia Lean – que, como já destacamos, não é uma ferramenta, e sim uma diferente forma de pensar o sistema de produção. Tentar implantar o JIT sem que haja reflexo na cultura organizacional é certeza de fracasso. Entre as empresas que falham na implementação do sistema, o fator humano é apontado como principal barreira enfrentada. Isso se aplica em vários níveis:
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Liderança
Adotar o sistema Just in Time não pode ser uma decisão de um setor ou grupo na empresa. Tem que ser um objetivo de todos os líderes, da alta direção aos supervisores do chão de fábrica. Se não há aderência e sinergia, não haverá êxito. De forma idêntica, esse objetivo deve ser congruente com a estratégia do negócio, evitando-se a sobreposição de mecanismos conflitantes. Os gestores precisam ter conhecimento amplo sobre o funcionamento da empresa, a demanda dos clientes e a cadeia de fornecedores. Devem ainda ser embaixadores da filosofia Lean, denotando em suas decisões a visão de qualidade e redução de desperdícios.
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Produção
A predominância histórica do sistema de produção “empurrada” faz com que as equipes sejam reativas ao JIT. Assim, o PCP pode mascarar o sistema tradicional como JIT, sem, no entanto, mudar a filosofia por trás da operação. Também é comum que, com a modernização dos sistemas, muitos colaboradores percam a percepção do processo. Criado para ser executado de forma extremamente simples, o Kanban, por exemplo, foi levado a complexos sistemas informacionais, que seguidamente não estão ao alcance da compreensão de quem trabalha no gemba. Isso dificulta a adesão desses funcionários, que veem o JIT como algo que veio para complicar seu trabalho, em vez de facilitar.
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Treinamento
Já destacamos que a melhoria contínua depende de aprender a aprender. Como Lean e JIT mudam a maneira como vemos a produção, não é possível implementá-los sem muito treinamento e capacitação. Mão de obra despreparada e aumento da rotatividade são indicados como elementos críticos de fracasso no JIT.
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Cultura
Citamos por último, mas é o elemento fundamental para aplicar o JIT. O Just in Time é uma perspectiva ampla, que necessita de suporte gerencial e do conhecimento de várias técnicas para ser corretamente aplicada. Se a empresa como um todo não estiver dedicada à melhoria contínua e à redução de desperdícios, os esforços serão em vão. Isso significa um compromisso firme da gestão com essa filosofia, que deve estar espelhada em todos os projetos e ações da organização.
A implantação do sistema Just in Time fica mais fácil com ajuda profissional. Fale com a gente! Para saber mais sobre excelência operacional siga nossos posts no Facebook.
Edição: Svendla Chaves – jornalista
Imagens: Bilderandi e Dirk Wouters/Pixabay
Profissional de Excelência Operacional e Business Intelligence!
Sou um eterno aprendiz ou seja um pseudo-Engenheiro e Administrador de Empresas, embora nunca tenha sido um exemplo de “excelência” em Matemática, ao longo dos anos passo a maior parte do meu tempo tentando aprender a mesma e, particularmente, a estatística uma vez que, salvo muito engano, é ela que rege nossas vidas na busca da Excelência seja como pessoa ou como profissional.
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